(DEPOIMENTO FEITO PELO
POETA E ESCRITOR JANSEN LEIROS,

PRIMO DA MINHA MULHER)

CURIOSIDADES DA VIDA

Jansen Leiros

Saudade é, quase sempre, um sentimento que acaricia nossas lembranças. É! Eu sinto saudades da época em que acalentava o sonho de voar. E me lembro com nitidez dos poucos equipamentos de que dispunha o Aero Clube do Rio Grande do Norte, nos idos de 1950, para o treinamento de seus alunos. Havia um “Pipper”, um “Cesna 140”, dois paulistinhas e outro equipamento remanescente da guerra de 14, se não me falha a memória. O sonho arrefeceu com o acidente que arrebatou a vida de Edmundo. Sepultei o sonho Mas, nem sempre existem sonhos definidos ou sonhos que se frustram. Juarez Araújo Rodrigues, gaúcho de nascimento, niteroiense de criação e convertido nordestino pelo casamento, alimentava o sonho de jogar futebol e terminou sentado do lado direito de um Cap 4 (paulistinha) para receber aulas de vôo com o Instrutor Rangel, no Aero Clube do Estado do Rio de Janeiro. O início dessa instrução se deu no dia 08 de outubro de 1955, seis dias depois de seu aniversário. Fizera dezenove (19) anos de idade. O curso foi exitoso. Juarez recebeu seu “brevet”. Cumprindo a tradição de o piloto “brevetado” escolher seu primeiro passageiro para um vôo local, Juarez quis prestigiar um amigo, motorista de ônibus da antiga Viação Fortaleza, de Niterói (RJ) e o convidou para seu batismo como Piloto Civil. “Seu” Antônio, que nunca andara de avião, ficou maravilhado e guardaria com muito carinho aquela experiência inusitada. Juarez também guardava aquele fato em suas lembranças.
Sempre fanático por futebol, Juarez foi tocando sua nova vida de piloto e entrou para a Panair do Brasil, trocando o PP-RVV – Cap 4 pelo Douglas DC-3, em 1957. Depois, veio a NAB-Navegação Aérea Brasileira, depois a empresa Loyd Aéreo, depois a Sadia e, por fim, a VASP –Viação Aérea São Paulo. Juarez voou vários equipamentos e guarda na seqüência, os seguintes: Cap 4 (paulistinha), Douglas – DC-3, Curtis Comander C-46, Scândia A-90, Viscont 701, Douglas – DC-6 (quadrimotor), Dart Herald (turbo), Boing 737 e o 727 (jatos). As aventuras vividas como piloto de carreira foram guardadas na memória do experiente comandante. Vivências interessantes e marcantes para o “gaúcho” de Niterói (RJ) que jogara futebol na rua e que fora parceiro do grande Gerson da seleção brasileira. Foram muitas emoções, muitas alegrias, saudades de casa, da mulher, dos filhos e o amealhar de histórias e estórias ligadas a esse nobre segmento profissional.
Quase três décadas se passaram. Juarez enriqueceu sua cultura em memoráveis viagens pelo exterior conhecendo literalmente o mundo todo: as Américas, a Europa, a Ásia, a Oceania e o Circo Ártico, tendo quase todas essas aventuras devidamente registradas em “tapes”, “cassets” e fotografias.
Mas, chegara o momento de aposentar-se. Juarez, enfim, agendou seu último vôo. Escolheu como destino a rota São Paulo, onde mantinha sua base, e a cidade de Porto Alegre, sua terra natal. Foi então que Juarez teve um “insite”: convidar “seu” Antônio – motorista da antiga Viação Fortaleza, para ser seu “último passageiro”. Não deu outra. Foi a Niterói, fez o convite a “seu” Antônio que, sem se conter de alegria, aceitou-o, enchendo de alegria o coração do exitoso comandante.
Sua carreira registrou: Vinte e oito (28) anos, dois (2) meses e cinco (5) dias, iniciada com “seu” Antônio como seu primeiro passageiro e concluída com o mesmo Antônio, como último passageiro. Nossas homenagens a esse grande Az da aviação comercial brasileira: Comandante Juarez Araújo Rodrigues.